Há momentos na vida em que passamos por duvidas em nossa identidade, isso acontece na adolescência na maioria dos casos.
Final de tarde, rua vazia eu parada na porta da minha casa, nada pra fazer, como sempre poucos amigos, sempre confusa com minhas escolhas, as meninas gostam de bonecas, brincar de casinha... Nossa, ficar sem jogar futebol pra mim era o que me deixava deprimida, ver os meninos jogando e eu sem poder ir lá, quando eu ia os vizinhos comentavam, mas meus amigos eram os garotos, as meninas gostavam do papo que tinham com minha irmã, é, foi uma época difícil!
Muitas comparações, meu pai me olhou muitas vezes e dizia: “p/q não te veste com a “fulana””? ela é tão feminina, passavam os dias e o discurso em pouco mudava, “p/q não vai sair com tuas amigas”? Como se as tivesse.
Quando tinha uns 15 anos uma menina olhou pra mim e disse: “Nossa, se tu fosse um menino eu faria tudo por ti”. Foi um momento estranho, me senti envaidecida e ao mesmo tempo triste, “p/q ela não poderia fazer tudo por mim mesmo assim”? Claro, eramos do mesmo sexo, esse era o motivo.
Algum tempo depois cheguei pro meu pai e disse: “Eu nunca vou me casar” a resposta foi seca e firme. “p/q vai virar sapatão”? Não respondi, só vi os olhos dele coberto de ódio, dai falei: “Meu tio não é casado e ninguém falou nada sobre ele, mais uma vez a resposta dele foi digamos cruel. “Teu tio é homem”. Opa, pensei “E dai”? o assunto terminou ali mesmo.
Mas eu fiquei pensando nos motivos pra tanta discórdia, um deles era o machismo, homem pode fazer o que bem entender, mulher não, o outro era: poxa não posso sentir o que sinto mas parece que os outros podem.
Fui ignorando sentimentos e me prendendo dentro de mim, as meninas me atraiam e na escola elas queria ficar perto de mim, mas eu nunca tinha coragem de dizer o que sentia, quando deitava na cama a noite meus pensamentos iam do mais ingênuo ao mais sacana possível, as meninas não saiam do meu pensamento, bom, entre rolos e desilusões eu fui amadurecendo e entendendo que no ambiente onde eu estava a saída era fazer o que eu queria mas escondido da maioria das pessoas.
Aos meus 21 anos conheci um cara, tive por ele uma paixão avassaladora, eu queria estar perto, pegar, beijar, ficar só olhando... Com o tempo me acostumei com a situação mas mesmo assim as meninas estavam sempre no meu pensamento, casei com ele um tempo depois, temos uma filha agora, confesso, nunca nos entendemos na cama, meu único orgasmo foi no dia da concepção da minha filha,(descobri isso depois).
Tenho uma tia que está se descobrindo só agora nos seu 41 anos e a família quando ouviu rumores de um possível caso dela entrou em conflito, passam por homens na rua e ficam jogando ela pra cima deles para ver se ela fica e esquece a AMIZADE com a garota, só eu sei que é bem mais que amizade, ela própria nunca admitiu para os outros da família, são só desconfianças, sondei meus pais pra ver se com o tempo eles teriam mudado seus valores, aprincipio achei que sim, me disseram que se ela tivesse mesmo um relacionamento lésbico jamais a deixariam de lado, fui entrando mais fundo nessa conversa até que as palavras foram? “nunca vamos abandonar ela, é nossa família, temos mesmo é pena dessa gente que age assim”.
Notaram o tom? “ESSA GENTE”!
Essas palavras bateram bem forte dentro de mim, meus pais com quase 70 anos, sei que jamais vão entender “ESSA GENTE”.
Me considero uma BISSEXUAL com 39 anos e que jamais vou querer que meus pais me vejam como uma coitada, sei que não sou mas pelo pensamento deles, não seguimos o que Deus manda então somos pessoas sem fé, sem crenças... Perturbadas.
Talvez se eu voltasse há muitos anos atrás eu teria agido diferente e contado minhas preferencias, mas sei que meus grandes amores (meus pais) com 70 anos agora não iram mudar seus pensamentos.
Não pensei que sou infeliz, tenho frustrações sim, por não ter tido coragem na hora certa, mas sou muito feliz do meu modo, aprendi a lidar com as situações, meus atos jamais atingiram minha filha e mesmo bem pequena que é tento mostrar a ela que preconceito e pena não são atitudes de pessoas descentes.
Tenho sim muitas histórias na minha vida, histórias lindas apesar do anonimato e muitas constrangedoras, se quiserem posso contar uma a uma pra vocês, tenho certeza que muitas faram vocês rirem outras podem chegar ao choro, mas, não me arrependo de nada que fiz, o processo que estamos chamasse evolução e é por isso que estamos aqui pra evoluir e não pra sucumbir.
Um beijo pra todas e até a próxima.
Enviada por: Diamante de Sonhos
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